Por uma comunicação que parta dos territórios e dê visibilidade às narrativas indígenas, um encontro formativo reuniu entre os dias 20 e 21 de abril, 25 jovens da Rede de Jovens Comunicadores/as Indígenas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). O evento ocorreu no Instituto São Boaventura, em Brasília (DF), e integrou as atividades do projeto: “Dabucury: Compartilhando Experiências e Fortalecendo a Gestão Etnoambiental nas Terras Indígenas da Amazônia Indígena”, desenvolvido pela CESE em parceria com a Coiab e  apoio do Fundo Amazônia/BNDES.

O encontro simbolizou uma rica diversidade cultural entre diferentes povos da Amazônia brasileira, reunindo indígenas: Xavante, Gavião Parkatêjê, Guajajara, Matis, Iny/Karajá, Wapichana, Macuxi, Ticuna, Apurinã, Taurepang, Akroá Gamella, Javaé,  Wayoró, Xerente, Kyjihatejê, Rikbaktsa, dentre outros, com suas vivências e percepções sobre direitos territoriais, práticas culturais e desafios enfrentados em suas comunidades. Eles/as compartilharam estratégias de resistência, reforçando a importância de suas tradições em um contexto de crescente pressão em seus territórios. “A oficina foi muito importante para o fortalecimento das nossas organizações indígenas”, comenta Edivan Silvino Miguel, do povo Macuxi, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, indicado pela sua organização de base, o Conselho Indígena de Roraima (CIR).

O projeto “Dabucury” foi desenvolvido para contribuir com a implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), visando viabilizar maior acesso das organizações indígenas aos recursos para a realização de seus projetos. Nesse sentido, a formação teve como objetivo auxiliar os jovens comunicadores na utilização da comunicação como estratégia de visibilidade para as iniciativas e os conceitos indígenas de gestão e proteção territorial.

Dimas Galvão, coordenador do setor de projetos e formação da CESE, presente na atividade, afirma que o Brasil tem sofrido muitas mudanças políticas e o papel da comunicação é fazer uma contranarrativa para defender o ponto de vista dos povos indígenas.

A programação incluiu discussões sobre Cobertura de Eventos, com Kaianaku Kamaiurá, coordenadora da Rede de Jovens Comunicadores/as da Coiab; Autogeorreferenciamento, com o gerente de monitoramento territorial indígena da Coiab, Ruan Guajajara, além de uma roda de conversa sobre Comunicação e Gestão Territorial e regularização do Microempreendedor Individual (MEI) para profissionais de Comunicação, com Clayton Jiahui, da Associação do Povo Indígena Jiahui (APIJ).

Comunicadores mapeam seus terrritórios em Oficina de autogeorreferenciamento e Cartografia Social

“Não é possível pensar no ser indígena sem a terra, sem a água, sem a floresta. Esse é o corpo-território dos povos indígenas. Essa rede mostra como todos os corpos-territórios estão interligados. Demarcação já!”, disse Ruan Guajajara.

Kaianaku Kamaiurá ressaltou a importância da oficina: “Essas formações contribuem para o aperfeiçoamento das técnicas de comunicação, fortalecendo a comunicação nos territórios indígenas e nas organizações de base da Coiab.”

Rede de Jovens Comunicadores da Coiab

Vice-coordenador da Coiab, Alcebíades Constantino, destaca : “Estamos atualizando cada vez mais a comunicação como ponto focal dentro dos territórios. Os jovens devem se aprimorar conforme seu território para se comunicar de forma cada vez mais específica e efetiva.

A Rede é uma estratégia central da Comunicação da Coiab para fortalecer as narrativas do movimento indígena da Amazônia. Com 80 jovens indígenas de 34 povos diferentes, a rede visa promover a construção de novas lideranças com novas ferramentas através da comunicação. A iniciativa busca fortalecer as comunicações das organizações de base da Coiab, amplificar denúncias sobre impactos, invasões, racismo e desmandos das políticas públicas ambientais e indígenas, além de proporcionar maior acesso à informação para a defesa dos direitos indígenas.

Apresentação dos trabalhos da oficina de autogeorreferenciamento

Eliomar Sarmento, do povo Tukano, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas da Amazônia (APIAM), participou da oficina e declara: “Essa atividade é crucial no fortalecimento das organizações indígenas como um todo e possibilita a defesa dos nossos povos e territórios. Uma organização forte é uma organização que tem base. A comunicação se torna esse elemento de sustentação.”

Sobre o projeto Dabucury

O Dabucury é uma iniciativa da CESE e da Coiab, com apoio de R$53,8 milhões do Fundo Amazônia, e possui o intuito de contribuir para a implementação da PNGATI, e viabilizar o acesso das organizações indígenas aos recursos para realização dos seus projetos.

Durante a 20º edição do Acampamento Terra Livre em Brasília, foi lançado o Edital do projeto para fomento de iniciativas indígenas que fortaleçam ações de gestão ambiental e territorial nas Terras Indígenas da Amazônia. O edital do “Dabucury: Gestão Territorial e Ambiental na Amazônia Indígena”.

A iniciativa contemplará até 30 projetos focados em duas linhas principais: ações de implementação previstas em Planos de Gestão Ambiental e Territorial (PGTAs) e ações de elaboração, conclusão ou atualização de instrumentos de gestão ambiental e territorial. As inscrições se iniciam no começo de maio e vai até 30 de junho de 2024. Acesse aqui o edital: https://bit.ly/Dabucury_Edital